Formação
Iniciado na escultura no ateliê do escultor Boaventura da Silva Filho
(Louco).
Período
de atividade
Desde meados dos anos 1970.
Principais
especialidades:
Escultura em madeira.
Outras
atividades
Guia de turismo.
Dados
biográficos:
Carlos Alberto Dias do Nascimento nasceu em 1959,
na cidade de Cachoeira (Recôncavo da Bahia). Seu pai lutou na II Guerra Mundial
e desejava que nenhum de seus filhos seguisse carreira militar (NASCIMENTO,
2008). Carlos Alberto foi o único a enveredar pelo caminho da arte, em sua
própria cidade que é muito rica em tradições culturais e religiosas. Recebeu o
apelido de Fory – diminutivo do nome do lutador Forforifa.
Ainda menino, frequentava uma “tenda” de
carpintaria perto de casa, fazendo miniaturas de móveis junto com outros
garotos. Aos 15 anos, pediu a seu pai para falar com o amigo “Ventura”
(Boaventura da Silva Filho, Louco), para ser seu ajudante na barbearia, onde
Boaventura e seu irmão (Clóvis Cardoso da Silva) esculpiam nas horas vagas. Aí
Fory ficava observando, lixava algumas peças, além de varrer o local
(NASCIMENTO, 2011).
Os primeiros trabalhos de Fory foram relevos em
placas. Pouco a pouco, foi explorando a tridimensionalidade em suas esculturas.
Seguindo o exemplo de Louco, buscava, nas formas e nos veios da madeira, o
ponto de partida para entalhar. Um exemplo muito interessante está na Fundação
Hansen Bahia, na Casa Santa Bárbara (São Félix – BA). Trata-se de uma imagem de
Cristo, com cabeça de adulto e corpo de criança, esculpido de modo tão
harmônico que chama a atenção. Nela observa-se que o escultor assinava “Fory
C.A.N.”, do mesmo modo que seu mestre Boaventura, que assinava “Louco B.S.F.”
(nome artístico seguido das iniciais do nome).
Não se pode deixar de mencionar que Fory era amigo
e admirador do escultor Valdemir Cardoso do Nascimento, Bolão (sobrinho de
Louco), cujo ateliê (na Rua 13 de Maio), em meados dos anos 1970, era
frequentado por jovens para ouvir música, discutir ideais políticas e falar de
escultura e de estética (PEREIRA, 2012). Nessa época, Cachoeira começava a ter
exposições e festivais de arte; os gravadores Ilse e Hansen Bahia
transferiram-se para a região, a Galeria Amanda Costa Pinto foi aberta, assim
como diversos órgãos públicos passaram a atuar na cidade a fim de dinamizar a
cultura e o turismo locais.
O trabalho de Nascimento emergiu nos anos 1980,
quando a discussão da condição do negro na sociedade brasileira era reavivada
no Brasil por movimentos negros, o que teve reflexo sobre o olhar dos artistas.
Em Cachoeira, ele tomou parte em exposições de arte que tinham, ao lado da
intenção estética, a intenção política de afirmação da “cultura negra”,
tornando-se um de seus protagonistas. Em Salvador, aconteceram mostras de arte
em museus do Estado e da Universidade Federal da Bahia, voltadas à cultura e
arte negras, as quais tiveram a participação de escultores cachoeiranos, a
exemplo de Fory.
Em 1986, participou da III Conferência Mundial dos
Orixás, Tradição e Cultura, em Nova Iorque, que reuniu representantes do mundo
“Atlântico Negro” – Caribe, Brasil, África e EUA – lugares das “diásporas
negras” e lhe proporcionou a troca de experiência com artistas de outros países.
Essa exposição de arte, que integrou o grande evento, aconteceu no Aaron Davis
Hall (universidade no Halley). Na mesma ocasião, Fory proferiu uma conferência
sobre os orixás, no Caribe Cultural Centre (NASCIMENTO, 2008).
Tem composições significativas nas quais acopla
objetos à madeira esculpida. São pregos, búzios da Costa, o que se vê na
escultura intitulada Rastafari (1983). Pregos, correntes, formões,
chaves de fenda e outras ferramentas compõem a cabeça chamada Ferreiro
Celestial, fazendo uma alusão aos ancestrais ferreiros, provavelmente os
africanos Ogum (Iorubá) e Gun (Fon) que se manifestam nos terreiros da região.
Visualmente essas imagens lembram fetiches africanos.
A escultura Rastafari (1983) foi realizada
em homenagem ao músico jamaicano Bob Marley (falecido em 1981), cuja música
influenciou um grupo de jovens da cidade de São Félix e de Cachoeira, que
cantaram sobre a história do negro vivida no Brasil, semelhante com a de outros
lugares do Atlântico.
Em 1985, a Loteria Federal circulou um bilhete da
Loteria Federal com imagem dessa escultura (Rastafari), sem citar
o autor e pedir concessão de direito autoral, o qual tinha sido concedido
apenas para a publicação de um livro da Funarte (A ESCULTURA, 1985, p. 8). A
contestação judicial pela violação de seus direitos possivelmente contribuiu
para uma mudança de atitude, por parte de órgãos públicos, em relação à
apropriação de imagens produzidas por autores autodidatas.
Fory exibiu a obra Rastafari em uma
exposição realizada na Sede do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Cachoeira), no dia 13 de maio de 1987, que fez parte de um conjunto
de atividades voltadas para conscientizar a comunidade da problemática do negro
em uma sociedade estratificada. Foi promovida por participantes do movimento de
pró-criação da Associação de Artistas e Animadores Culturais de Cachoeira
(AAACC) e do Centro de Estudos, Pesquisas e Ação Sócio-Cultural. (13 DE MAIO,
12 mai. 1987, p. 5).
Fory frequenta o Yiê Oyó Mecê Alaketu Axé Ogum na
cidade de Governador Mangabeira, terreiro fundado pelo babalorixá Leopoldo
Silvério da Rocha em 1963 (NASCIMENTO, 2008).
Motivado pela temática religiosa, em 1988 realizou
a mostra individual intitulada Omo-Ebora. Em iorubá, “omo” quer dizer
criança, filho (NAPOLEÃO, p. 77 e 174) e os “ebora” são, segundo Juana Elbein
dos Santos (1976, p.79), as entidades que detêm o poder feminino. Nessa mostra
expôs também muitas variações de Exu, com a intenção desmistificar interpretações
negativas do orixá, que é tido como pelos conhecedores da religião afro, como o
responsável pela dinâmica que existe em tudo. (ESCRITOR, 12 ago 1988, p. 8).
Exu “é o orixá princípio do movimento, da ação e, portanto, nada existiria sem
ele. Todos os poderes e as qualidades dos orixá só se realizam pela atuação de
Exu” (LUZ, 2011, p. 131), que imprime a sua força aos demais orixás.
Fory estiliza a figura humana, o que aparece em
representações de irmãs da Boa Morte, tocadores de atabaque e figuras femininas
que chamam a atenção pelo erotismo, além de outras que simbolizam a fecundidade
de mulheres e deusas, várias delas grávidas, muito elegantes, que resultaram de
um processo de criação gradativo, que deve ser compreendido observando-se o
conjunto da produção do escultor de Cachoeira. Nesse processo, o conhecimento
das ilustrações de Carybé deve ter sido uma referência importante.
Seu público abrange turistas, entre eles
estudiosos, além de adeptos às religiões de matriz africana que encomendam peças
para terreiros. Participou de feiras e exposições em várias cidades
brasileiras. Tem esculturas no exterior em países da América do Norte e da
Europa, que são compradas geralmente em Cachoeira e em Morro de São Paulo, onde
mantém trabalhos permanentemente em galerias de arte e artesanato, mas também
já fez remessas de esculturas para o exterior (NASCIMENTO, 2008).
Despertou o interesse de decoradores nos anos 1980,
com divulgação de esculturas suas pela revista de circulação nacional Casa
Cláudia (NASCIMENTO, 2008). Participou com obra na Casa Cor 2003, integrando
decoração de Edvaldo Ávila, em homenagem ao gravador Hansen Bahia.
Atualmente, seu ambiente de trabalho é na zona
rural de Cachoeira, a fim de ter mais tranquilidade. Contudo, tradicionalmente,
manteve ateliê no centro da cidade, perto da Irmandade da Boa Morte.
Mostras
individuais:
1984 – Cachoeira, BA – Individual, Exposição de Fory, na
Galeria da Sphan/Pró-Memória.
1986 – Cachoeira, BA – Individual, Exposição de Fory.
Sobrado na Rua Ana Néry, n. 23.
1988 – Cachoeira, BA – Individual, “Omo-Ebora” no Ateliê de
Fory Nascimento.
1988? – Morro de São Paulo, BA – Individual, no Hotel
Villegaignon.
2010 – Morro de São Paulo, BA – Individual, na Galeria do
Hotel Portaló.
Participações
em Salões, Bienais e coletivas:
1978 – Salvador, BA. Mostra de Arte Popular na Aliança
Francesa da Bahia – 1 – Cachoeira – Bahia, na Aliança Francesa.
1984 – Cachoeira, BA. Exposição Coletiva, no SPHAN.
1984 – Salvador, BA – Pré-Bienal de Cultura Afro, no Museu
Afro-Brasileiro (UFBA).
1984 /1985 – Salvador, BA – Bienal de Cultura Afro, no Museu
Afro-Brasileiro (UFBA).
1986 – Salvador, BA – Cachoeira e seus Artistas, no Solar do
Ferrão.
1986 – Nova Iorque, EUA – Exposição na III Conferência
Mundial dos Orixás, Tradição e Cultura, no Aaron Davis Hall.
1987 – Cachoeira, BA – Exposição em Homenagem a Tamba e
Bolão, no SPHAN.
1987 – Salvador, BA – I Bienal de Arte Negra, no Museu de
Arte da Bahia (promovido pelo Núcleo Cultura Afro-Brasileiro.
1991 – Cachoeira, BA – Exposição Coletiva, na I Semana de
Arte e Cultura, na Galeria do IPAC (Organização: AAACC e Casa do Benin).
1991 – São Félix, BA – I Bienal do Recôncavo, na Fundação
Dannemann.
1992 – Cachoeira, BA – II Bienal de Cultura e Arte Negra, realizada
em Salvador, com extensão em Cachoeira.
(Organização:
Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, AAACC e IPAC), na Galeria do IPAC.
1995 – Cachoeira, BA – Exposição Coletiva de Artes
Plásticas, promovida pela AAACC, na Sede do IPHAN.
2000 – Salvador, BA – Exposição Coletiva de Artistas
Regionais, na Galeria SEBRAE.
2002 – Cachoeira, BA – Cachoeira na Ótica dos Artistas
Plásticos Cachoeiranos, na Câmara Municipal.
2005 – Cachoeira, BA – Exposição Coletiva, na Galeria do
IPAC.
2006/2007 – São Félix, BA – VIII Bienal do Recôncavo, na
Fundação Dannemann.
2009 – Salvador, BA – “Cidade Histórica, uma Cachoeira de
emoções”, no Instituto Mauá, no Pelourinho.
2012 – Cachoeira, BA – Exposição Coletiva Escultores de
Cachoeira, no Espaço Cultural Fundação Hansen Bahia.