sábado, 30 de novembro de 2013

Dados biográficos de Fory



Formação
Iniciado na escultura no ateliê do escultor Boaventura da Silva Filho (Louco).
Período de atividade
Desde meados dos anos 1970.
Principais especialidades:
Escultura em madeira.
Outras atividades
Guia de turismo.

Dados biográficos:
Carlos Alberto Dias do Nascimento nasceu em 1959, na cidade de Cachoeira (Recôncavo da Bahia). Seu pai lutou na II Guerra Mundial e desejava que nenhum de seus filhos seguisse carreira militar (NASCIMENTO, 2008). Carlos Alberto foi o único a enveredar pelo caminho da arte, em sua própria cidade que é muito rica em tradições culturais e religiosas. Recebeu o apelido de Fory – diminutivo do nome do lutador Forforifa.
Ainda menino, frequentava uma “tenda” de carpintaria perto de casa, fazendo miniaturas de móveis junto com outros garotos. Aos 15 anos, pediu a seu pai para falar com o amigo “Ventura” (Boaventura da Silva Filho, Louco), para ser seu ajudante na barbearia, onde Boaventura e seu irmão (Clóvis Cardoso da Silva) esculpiam nas horas vagas. Aí Fory ficava observando, lixava algumas peças, além de varrer o local (NASCIMENTO, 2011).
Os primeiros trabalhos de Fory foram relevos em placas. Pouco a pouco, foi explorando a tridimensionalidade em suas esculturas. Seguindo o exemplo de Louco, buscava, nas formas e nos veios da madeira, o ponto de partida para entalhar. Um exemplo muito interessante está na Fundação Hansen Bahia, na Casa Santa Bárbara (São Félix – BA). Trata-se de uma imagem de Cristo, com cabeça de adulto e corpo de criança, esculpido de modo tão harmônico que chama a atenção. Nela observa-se que o escultor assinava “Fory C.A.N.”, do mesmo modo que seu mestre Boaventura, que assinava “Louco B.S.F.” (nome artístico seguido das iniciais do nome).
Não se pode deixar de mencionar que Fory era amigo e admirador do escultor Valdemir Cardoso do Nascimento, Bolão (sobrinho de Louco), cujo ateliê (na Rua 13 de Maio), em meados dos anos 1970, era frequentado por jovens para ouvir música, discutir ideais políticas e falar de escultura e de estética (PEREIRA, 2012). Nessa época, Cachoeira começava a ter exposições e festivais de arte; os gravadores Ilse e Hansen Bahia transferiram-se para a região, a Galeria Amanda Costa Pinto foi aberta, assim como diversos órgãos públicos passaram a atuar na cidade a fim de dinamizar a cultura e o turismo locais.
O trabalho de Nascimento emergiu nos anos 1980, quando a discussão da condição do negro na sociedade brasileira era reavivada no Brasil por movimentos negros, o que teve reflexo sobre o olhar dos artistas. Em Cachoeira, ele tomou parte em exposições de arte que tinham, ao lado da intenção estética, a intenção política de afirmação da “cultura negra”, tornando-se um de seus protagonistas. Em Salvador, aconteceram mostras de arte em museus do Estado e da Universidade Federal da Bahia, voltadas à cultura e arte negras, as quais tiveram a participação de escultores cachoeiranos, a exemplo de Fory.
Em 1986, participou da III Conferência Mundial dos Orixás, Tradição e Cultura, em Nova Iorque, que reuniu representantes do mundo “Atlântico Negro” – Caribe, Brasil, África e EUA – lugares das “diásporas negras” e lhe proporcionou a troca de experiência com artistas de outros países. Essa exposição de arte, que integrou o grande evento, aconteceu no Aaron Davis Hall (universidade no Halley). Na mesma ocasião, Fory proferiu uma conferência sobre os orixás, no Caribe Cultural Centre (NASCIMENTO, 2008).
Tem composições significativas nas quais acopla objetos à madeira esculpida. São pregos, búzios da Costa, o que se vê na escultura intitulada Rastafari (1983). Pregos, correntes, formões, chaves de fenda e outras ferramentas compõem a cabeça chamada Ferreiro Celestial, fazendo uma alusão aos ancestrais ferreiros, provavelmente os africanos Ogum (Iorubá) e Gun (Fon) que se manifestam nos terreiros da região. Visualmente essas imagens lembram fetiches africanos.
A escultura Rastafari (1983) foi realizada em homenagem ao músico jamaicano Bob Marley (falecido em 1981), cuja música influenciou um grupo de jovens da cidade de São Félix e de Cachoeira, que cantaram sobre a história do negro vivida no Brasil, semelhante com a de outros lugares do Atlântico.
Em 1985, a Loteria Federal circulou um bilhete da Loteria Federal com imagem dessa escultura (Rastafari), sem citar  o autor e pedir concessão de direito autoral, o qual tinha sido concedido apenas para a publicação de um livro da Funarte (A ESCULTURA, 1985, p. 8). A contestação judicial pela violação de seus direitos possivelmente contribuiu para uma mudança de atitude, por parte de órgãos públicos, em relação à apropriação de imagens produzidas por autores autodidatas.
Fory exibiu a obra Rastafari em uma exposição realizada na Sede do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Cachoeira), no dia 13 de maio de 1987, que fez parte de um conjunto de atividades voltadas para conscientizar a comunidade da problemática do negro em uma sociedade estratificada. Foi promovida por participantes do movimento de pró-criação da Associação de Artistas e Animadores Culturais de Cachoeira (AAACC) e do Centro de Estudos, Pesquisas e Ação Sócio-Cultural. (13 DE MAIO, 12 mai. 1987, p. 5).
Fory frequenta o Yiê Oyó Mecê Alaketu Axé Ogum na cidade de Governador Mangabeira, terreiro fundado pelo babalorixá Leopoldo Silvério da Rocha em 1963 (NASCIMENTO, 2008).
Motivado pela temática religiosa, em 1988 realizou a mostra individual intitulada Omo-Ebora. Em iorubá, “omo” quer dizer criança, filho (NAPOLEÃO, p. 77 e 174) e os “ebora” são, segundo Juana Elbein dos Santos (1976, p.79), as entidades que detêm o poder feminino. Nessa mostra expôs também muitas variações de Exu, com a intenção desmistificar interpretações negativas do orixá, que é tido como pelos conhecedores da religião afro, como o responsável pela dinâmica que existe em tudo. (ESCRITOR, 12 ago 1988, p. 8). Exu “é o orixá princípio do movimento, da ação e, portanto, nada existiria sem ele. Todos os poderes e as qualidades dos orixá só se realizam pela atuação de Exu” (LUZ, 2011, p. 131), que imprime a sua força aos demais orixás.
Fory estiliza a figura humana, o que aparece em representações de irmãs da Boa Morte, tocadores de atabaque e figuras femininas que chamam a atenção pelo erotismo, além de outras que simbolizam a fecundidade de mulheres e deusas, várias delas grávidas, muito elegantes, que resultaram de um processo de criação gradativo, que deve ser compreendido observando-se o conjunto da produção do escultor de Cachoeira. Nesse processo, o conhecimento das ilustrações de Carybé deve ter sido uma referência importante.
Seu público abrange turistas, entre eles estudiosos, além de adeptos às religiões de matriz africana que encomendam peças para terreiros. Participou de feiras e exposições em várias cidades brasileiras. Tem esculturas no exterior em países da América do Norte e da Europa, que são compradas geralmente em Cachoeira e em Morro de São Paulo, onde mantém trabalhos permanentemente em galerias de arte e artesanato, mas também já fez remessas de esculturas para o exterior (NASCIMENTO, 2008).
Despertou o interesse de decoradores nos anos 1980, com divulgação de esculturas suas pela revista de circulação nacional Casa Cláudia (NASCIMENTO, 2008). Participou com obra na Casa Cor 2003, integrando decoração de Edvaldo Ávila, em homenagem ao gravador Hansen Bahia.
Atualmente, seu ambiente de trabalho é na zona rural de Cachoeira, a fim de ter mais tranquilidade. Contudo, tradicionalmente, manteve ateliê no centro da cidade, perto da Irmandade da Boa Morte.
Mostras individuais:
1984  –  Cachoeira, BA – Individual, Exposição de Fory, na Galeria da Sphan/Pró-Memória.
1986  –  Cachoeira, BA – Individual, Exposição de Fory. Sobrado na Rua Ana Néry, n. 23.
1988  –  Cachoeira, BA – Individual, “Omo-Ebora” no Ateliê de Fory Nascimento.
1988?  –  Morro de São Paulo, BA – Individual, no Hotel Villegaignon.
2010  –  Morro de São Paulo, BA – Individual, na Galeria do Hotel Portaló.
Participações em Salões, Bienais e coletivas:
1978  –  Salvador, BA. Mostra de Arte Popular na Aliança Francesa da Bahia – 1 – Cachoeira – Bahia, na Aliança Francesa.
1984  –  Cachoeira, BA. Exposição Coletiva, no SPHAN.
1984  –  Salvador, BA – Pré-Bienal de Cultura Afro, no Museu Afro-Brasileiro (UFBA).
1984 /1985  –  Salvador, BA – Bienal de Cultura Afro, no Museu Afro-Brasileiro (UFBA).
1986  –  Salvador, BA – Cachoeira e seus Artistas, no Solar do Ferrão.
1986  –  Nova Iorque, EUA – Exposição na III Conferência Mundial dos Orixás, Tradição e Cultura, no Aaron Davis Hall.
1987  –  Cachoeira, BA – Exposição em Homenagem a Tamba e Bolão, no SPHAN.
1987  –  Salvador, BA – I Bienal de Arte Negra, no Museu de Arte da Bahia (promovido pelo Núcleo Cultura Afro-Brasileiro.
1991  –  Cachoeira, BA – Exposição Coletiva, na I Semana de Arte e Cultura, na Galeria do IPAC (Organização: AAACC e Casa do Benin).
1991  –  São Félix, BA – I Bienal do Recôncavo, na Fundação Dannemann.
1992  –  Cachoeira, BA – II Bienal de Cultura e Arte Negra, realizada em Salvador, com extensão em Cachoeira.            (Organização: Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, AAACC e IPAC), na Galeria do IPAC.
1995  –  Cachoeira, BA – Exposição Coletiva de Artes Plásticas, promovida pela AAACC, na Sede do IPHAN.
2000  –  Salvador, BA – Exposição Coletiva de Artistas Regionais, na Galeria SEBRAE.
2002  –  Cachoeira, BA – Cachoeira na Ótica dos Artistas Plásticos Cachoeiranos, na Câmara Municipal.
2005  –  Cachoeira, BA – Exposição Coletiva, na Galeria do IPAC.
2006/2007  –  São Félix, BA – VIII Bienal do Recôncavo, na Fundação Dannemann.
2009  –  Salvador, BA – “Cidade Histórica, uma Cachoeira de emoções”, no Instituto Mauá, no Pelourinho.
2012  –  Cachoeira, BA – Exposição Coletiva Escultores de Cachoeira, no Espaço Cultural Fundação Hansen Bahia.